16 de nov. de 2012

O ESPIRITISMO E A ÉTICA - PARTE II

*Por Alfer Sant
A Ética se abstém de criar normas ou de impor determinado tipo de comportamento humano e o Espiritismo, com suas regras morais, pretende induzir o ser humano a refletir sobre suas relações uns com os outros; ensinar e influenciar os modos de conduta ou de convivência moral entre estes seres, com o objetivo de permitir e facilitar o alcance da sua reforma íntima, objetivando a sua perfeição, meta principal a ser alcançada. Mas, como vimos, é a ética que estuda e avalia a receptividade das regras morais e a qualidade do agir humano de acordo com o que nos é proposto no Evangelho de Cristo (ou de outras correntes religiosas), ou seja, se nos conduzimos ou não conforme os ensinamentos ali contidos.
Sabemos que a Ética foi concebida por espíritos estudiosos encarnados, principalmente os filósofos da Grécia Antiga como: Sócrates (conhecido como “o pai da moral”), Platão, Aristóteles, entre outros espíritos nobres da época e de outras posteriores. Já no sec.XIX, estes mesmos espíritos na condição de desencarnados, foram também colaboradores na formulação e concepção da Doutrina Espírita, codificada por Kardec, ao lado de outros, como por exemplos: Paulo de Tarso, Emmanuel, Santo Agostinho, Fénelon, São Luís, São Bento, Joana de Ângelis (um espírito amigo), Erasto, João Evangelista, Rousseau, Kant, Lázaro, Joana D’Arc, etc., sob a inspiração, coordenação e presidência do Espírito da Verdade.
A Doutrina Espírita foi concebida e formulada com base nos ensinamentos do Mestre Jesus constituindo-se no que se denomina moral espírita, sendo que a sua grande importância é a de proporcionar a reforma íntima dos seres humanos, para que, a partir dos seus preceitos doutrinários, aprendamos a conhecer, fazer, conviver e ser, descobrir a nós mesmos e indicar-nos os caminhos do reajuste, evoluindo, reformando-nos, buscando a perfeição e, por fim, a felicidade.
É de observar-se que, se o espírito não está no vaso carnal só possui a natureza espiritual. A criatura humana concreta possui uma natureza material ou animal e espiritual compondo a natureza humana, e esta última – a natureza espiritual - é representada pelos princípios intelectual e moral de que se revestem os espíritos, trazendo à matéria quando encarnam, dos quais derivam as faculdades inteligência e vontade, chamadas potências da alma: uma buscando a verdade, outra buscando o bem, induzindo-nos a deduzir que possuímos uma “inteligência prática”, própria para a ação.
Os seres humanos utilizam a inteligência prática para agir no mundo, ou seja, a inteligência interage com a vontade para, nos diversos setores de atividades, produzirem bens materiais e imateriais. Mas não é só, vez que a inteligência prática também atua no campo específico da moral e, é a partir dela que estes seres sabem se o que fazem, fez e querem fazer é bom ou mau. Portanto, nesta acepção, todos os seres humanos (encarnados e desencarnados) são destinatários dos estudos, da avaliação e dos julgamentos éticos, vez que são seres morais.
Os filósofos eticistas sugerem que temos um órgão ou sensor ético originário dessa inteligência prática, constituído da sindérese, prudência e da consciência, afirmando ser este sensor imaterial (veja Alonso, obra citada) e, portanto, não está no corpo físico, concluímos. Logo, está no espírito, de modo que entendemos serem todos os espíritos possuidores de um órgão ou sensor ético e, estejamos encarnados ou não, somos submetidos à avaliação e julgamento subjetivo da nossa conduta moral no sentido amplo, ou seja, pode ser um desejo, uma intenção, um pensamento, uma ação.
A sindérese é a faculdade primígena do órgão ético racional existente em todos os espíritos, expressão muito usada pela filosofia cristã a partir do sec. XI, e muitos autores informam ter ela sido cunhada primeiramente por São Jerônimo (347 - 420) seguido por São Tomás de Aquino (1225 - 1274). Este autor acentua que “a sindérese é a luz natural, dada por Deus aos homens, que lhes permite conhecer e apreender os princípios fundamentais da ação” (veja Nalini, obra citada).
É o hábito dos primeiros princípios da ordem moral que se apresenta como normativo em ordem à especificação dos atos em todo o campo da moralidade, coroados pelo princípio supremo, “bonun faciendum, malunque vitando, ou seja, o bem deve ser feito, o mal deve ser evitado (veja Henrique C. de Lima Vaz em Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica I, pag. 17). A existência do bem e do mal é captada por ela, mas também é dela o direcionamento inato da conduta dos seres humanos para o bem e, portanto, intervindo no ato moral.
O ato ou conduta humana mesmo antes de ser realizado é gestado, por assim dizer, pela inteligência prática através da sindérese (“hábito natural dos primeiros princípios do agir”) que apreende a existência do bem e do mal e os distingue e escolhe para atuar segundo o grau de adiantamento ou aperfeiçoamento do espírito. Esta função primeira da inteligência prática é realizada no corpo sutil, psicossomático ou perispírito, onde está sediado o comando do cérebro físico, a mente, que independe deste para pensar, comunicar e mesmo agir ou atuar.  
Todo atuar dos seres humanos é direcionado para o bem ou para o mal. Porém, atuamos sempre levando em conta pessoas, coisas, fatos e circunstâncias, ou seja, agimos com prudência ou sabedoria (do grego, frônesis ou sofía), virtudes próprias da alma racional orientada para os bens divinos. E não estamos falando de prudência no sentido léxico - agir com cautela ou precaução – mas, agir de maneira correta, sensata e, portanto, realística. 
A consciência (na língua latina cum = com e scientia = ciência, ou seja, consciência, agir ou pensar com conhecimento) aqui entendida é a consciência moral, operação instantânea ou “função reflexiva da inteligência prática, pela qual a pessoa (diríamos o ser humano) autojulga aquilo que vai fazer, faz ou fez, segundo sua bondade ou malícia” ou, “é um juízo da inteligência prática humana que se pronuncia acerca do bem ou do mal do nosso próprio agir” (veja Alonso, obra citada).

É claro, então, que não estamos nos reportando à consciência psicológica que nos permite conhecer o mundo, os fatos, as coisas e objetos, pessoas, produzir bens materiais e imateriais etc., dar-nos conta de quem somos e do que fazemos.
      
A consciência moral constitui-se como norma última obrigatória, subjetiva, interior ao sujeito da moralidade ou da qualidade da vida ética. É, pois, uma operação prático-intelectual da inteligência prática que julga a nossa própria conduta, ou seja, se agimos bem ou mal. É uma faculdade de julgar e avaliar o comportamento que tem conseqüências não só para nós mesmos, como para os demais (veja Vázquez, obra citada). “É juiz, acusador, defensor de cada espírito, que age conforme os arquivos com que se estrutura, aprisionando em remorsos lastimáveis ou libertando com alegrias inefáveis cada Espírito” (Joanna de Ângelis, em Diretrizes Para o Êxito, pag. 112).

Contrapondo-se às idéias de Immanuel Kant, Vásquez acentua que a consciência moral é um produto histórico; algo que o homem cria e desenvolve no decurso de sua atividade pratica e social. E ainda acrescenta: “A consciência moral efetiva é sempre a consciência de um homem concreto individual, mas, por isso mesmo, de um homem que é essencialmente social” (obra citada), sem considerar que o homem é um espírito encarnado em evolução e que teve e terá muitas outras existências. Na verdade, a consciência moral e outras faculdades do espírito, são inatas, latentes, as quais são desenvolvidas durante as muitas existências no contexto histórico-social do espaço e do tempo e nas diversas sociedades e ambientes em que viveu fisicamente e permaneceu provisoriamente.

Passemos, pois, a palavra a Emmanuel: “Os valores intelectivos representam a soma de muitas experiências em várias vidas do espírito, no plano material. Uma inteligência profunda significa um imenso acervo de lutas planetárias... É no próprio patrimônio íntimo que a alma registra as suas experiências, no aprendizado das lutas da vida, acerca das quais guardará sempre uma lembrança inata nos trabalhos purificadores do porvir” (veja o livro O Consolador, psicografado por Francisco Xavier, respostas ás perguntas nº 117 e 118). 

*Alfer Sant é  pseudônimo usado pelo autor do texto que é mestre em economia, advogado, professor universitário e doutrinador espírita há mais de 40 anos.

LEIA AQUI:  O ESPIRITISMO E A ÉTICA - PARTE I
                       O ESPIRITISMO E A ÉTICA - FINAL

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